Vem aí o dia mais querido das crianças da minha terra. É uma alegria vê-las circulando por tudo quanto é rua, sobretudo nas freguesias rurais, a bater de porta em porta, com umas sacas de retalhos, de tamanho adequado para que lhes salte para dentro uma moedinha, uma guloseima ou, ainda, alguma castanha, que é muito própria do mês de Novembro. Mas para que tal aconteça há que dizer uma lengalenga antiga e que fica sujeita à abertura, ou não, da porta principal da casa onde vão bater entusiasticamente.
Em tempos ouvia dizer: "Soca vermelha, soca rajada, tranca no c* a quem não dá nada". Claro que este (c*) significa o que estão a pensar mesmo. Não lhe coloquei a vogal "u" porque dizem que fica mal usarmos termos que podem ter uma conotação a tender para o calão. Na minha opinião ficava bem melhor colocar a palavra certa do que o asterisco mas não seja eu a ofender alguém.
No dia seguinte, Domingo, é do dia dos Finados, isto é, dos que já estão noutra dimensão e que precisam das nossas orações e, para quem consegue, nem que seja uma flor na campa que representa quem por nós se dedicou de alma e coração enquanto vivos.
Portanto, temos pela frente dois dias especiais: um de Todos-os-Santos e outro dos que estão na via intermédia, julgo eu.
Para quem não sabe, a "cerimónia" do peditório infantil é tido como uma exemplificação do que se deve fazer enquanto adultos: dar uma esmola por alma dos entes queridos. Neste dia, é comum os padrinhos darem uma prenda aos afilhados e há quem pague a renda dos cerrados ao seu dono. Enquanto que nas mãos das crianças circulam guloseimas e moedas de baixo valor, nas mãos dos adultos circulam outros valores maiores, consoante as posses.
Como adorava este dia no meu tempo de criança... Hoje dá-me alguma nostalgia porque "perdi" a minha saquinha de retalhos e a outra está como a crise. Muitos já deram por ela (crise) mas como estavam noutro patamar de riqueza não sentiram o que aqueles mais pobres já vêm sentindo há muito tempo. Até estou em crer que o Pão-por-Deus já não vai ser como era. Estarei a mentir?
E que tal inventarem um comprimido "milagroso" que sirva para pequeno-almoço, almoço e jantar de quem tem problemas de saúde ou para quem não se sente apto a cozinhar como deve ser?
Isto teria de ter em conta as necessidades de cada indivíduo. Cada comprimido devia conter a fórmula ideal para não causar fome ou falha nutricional.
Podem-me colocar já na lista dos interessados. O fogão seria um electrodoméstico a abolir e já não havia necessidade dos gastos à volta deste aparelho.
Que me dizem desta ideia? Ou não é original e já existem esses benditos substitutos? Aguardo que alguém me aponte a direcção.
O rosto da Região
Eu quero louvá-lo ainda,
Porque é digno de louvores.
E não há terra mais linda,
Que a das ilhas dos Açores!
É por tudo o que tem feito
Que se vê desenvolvimento:
Este momento é perfeito
Para o agradecimento.
Conheço a sua actuação,
Bem como a cordialidade,
A todos dá atenção
E preserva a amizade.
Não é pessoa arrogante,
Nem é falso o seu sorriso;
Faz com que o emigrante
Volte a este paraíso.
Não se trave a caminhada,
A quem provas já nos deu
De ser pessoa honrada
Junto com Governo seu.
Quem me dera um dia ir
Entregar-lhe um ramalhete
E umas quadras a florir
Nas linhas de um bilhete.
Mas se tal não puder ser,
Fica aqui a ovação.
Este Presidente quero ter:
É o rosto da Região!
Há almas que passam fome,
Despidas de um emprego;
E há até quem mal come,
Não vendo seu corpo em rego.
Vão vivendo muito a custo,
Fruto de vida tirana;
Passaram por muito susto,
Numa ilha açoriana.
P'ra fugir à tirania,
Dos dias mais tenebrosos
Abraçaram a cantoria...
Que pede rima pausada;
Mas nunca irão ser famosos
À sombra sem se ouvir nada.
Dentro do coração da América cabem as ilhas com a grandeza dos seus usos, costumes e religiosidades. O Folclore, o Carnaval, o Espírito Santo, As Cantigas ao Desafio, as Festas do Padroeiro, etc. vão todos na bagagem e plantam-se em proporções alargadas e brilhantes. Lá, acrescentam-lhes a riqueza formal que a nova mansão lhes dá.
O que nunca muda é a alma de ilhéu. Não há cinza ou pedra que desmorone o sentimento que levam de cá. Por essa razão, não há tradução para uma palavra única, que os emigrantes não conseguem esconder, sobretudo aqueles que emigram por circunstâncias inesperadas e que gostava de ser ilhéus.
O sentimento vestiu-se da palavra SAUDADE, que não se imita, não se traduz, mas sente-se.
Saudade, saudade, só tu permaneces intacta na alma do emigrante, com o coração rendido à ilha que lhe deu o ser.
Enquanto houver amor, ilha e arte blogarei por toda a parte...
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